sábado, 24 de março de 2012

Homo Erectus

Paulo Cesar Pereio narra conto de Marcelino Freire nessa animação de Rodrigo Burdman feita em 2009


A Noviça Rebelde


O dia em que a Garagem Hermética se abriu


O quadrinista, artista plástico e designer francês Jean Giraud, mais conhecido como Moebius, deixou a Terra no última dia 10 de março. Colaborador de revistas como a Heavy Metal e e, filmes como Alien, Tron e O Quinto Elemento, Moebius deixou um legado de obras-primas dos quadrinhos, como Blueberry, O Incal, Arzach e A Garagem Hermética.

É mais um gênio que se vai e nos deixa mais carentes de arte, beleza e fantasia. Voe em paz, Moebius


Conheça um pouco dos mundos maravilhosos que ele criou

Clique nas imagens para ampliar o tamanho

























Mais ilustrações do mestre podem ser vistas neste tumblr sensacional, ou em algum sebo

Meteoritos (ou migalhas do pão universal)

entre um salto quântico e a dança no vácuo
sob o maior silêncio já encontrado
entre asteróides bêbados e satélites estressados
atravessei a Milky Way sem olhar o semáforo
atrasado para ver o parto daquela nova estrela
que já chegou ao quarto
crescente, nos braços e seios de uma nebulosa 
mãe-constelação acolhedora e radiosa 

*

se somos feitos de cordas
segundo a teoria
ainda sou violão desafinado
tocando acordes dissonantes
serei ainda uma guitarra Gibson
em voos-solos cortantes?

a vida seria então uma partitura
cheia de escalas e lacunas
notas e cifras complexas, indeterminadas
uma sinfonia cósmica inacabada, eterna
e regida por um maestro sem batuta?

*

outros físicos dizem que além de cordas
o cosmos tem membranas
multiversos flutuantes, multidimensões entrepostas
cada membrana é um universo
cada universo um objeto orgânico de mesma substância  
cada universo é como um pão
de massas e sabores diferentes
num café da manhã estelar
e em cada fatia, uma dimensão existente
não há dentro ou fora, miolo ou casca
seriam os deuses astronautas
tomando pingado numa padoca cósmica?

*

teorias e relatividades à parte 
senhores Copérnico, Galileu, Newton, Einstein
da metafísica à física quântica
me importa mais a quantidade de gravidade
na dinâmica e mecânica dos corpos carnais aos celestes
quantos gravitons e magnétons são necessários
para que dois leigos se atraiam
e ocupem por um momento o mesmo espaço-tempo
e caiam, vertiginosos como meteoros 
mas amortecidos por uma cama desavisada?

Leonard Almeida

terça-feira, 18 de outubro de 2011

2 poemas de Gregório Duvivier

Além de ótimo ator e comediante, o cara manda bem na poesia


gênese II 


No princípio era o verbo
uma vaga voz sem dono
vagando pela via láctea

Depois veio o sujeito
e junto com ele todos
os erros de concordância.



¨
quando se perde um braço ou uma perna 


quando se perde um braço ou uma perna
o membro perdido continua a coçar, reza
a lenda e a revista super interessante, e eu
que nunca amputei um braço ou uma perna
mas já perdi de vista algumas partes de mim
mesmo de vez em quando sinto coçar pessoas
que eu perdi de vista porque foram morar longe
cansaram-se de mim ou morreram de desastre

Manifesto


Senhoras e senhores
Esta é a nossa última palavra
- Nossa primeira e última palavra –
Os poetas desceram do Olimpo.
Para os nossos antepassados
A poesia era um objeto de luxo
Mas para nós
É um artigo de primeira necessidade:
Não podemos viver sem poesia.
Diferente de nossos antepassados
- E o digo com todo respeito... –
Nós sustentamos
Que o poeta não é um alquimista
O poeta é um homem como os outros
Um pedreiro que constrói seu muro
Um construtor de portas e janelas.
Nós conversamos
Na linguagem de todos os dias
Não acreditamos em signos cabalísticos.

Ademais, uma coisa:
O poeta está aí
Para que a árvore não cresça torcida.

Esta é a nossa mensagem.
Nós denunciamos o poeta demiurgo
O poeta Barata
O poeta Rato de Biblioteca.
Todos estes senhores
- E o digo com muito respeito...-
Devem ser processados e julgados
Por construírem castelos no ar
Por esbanjarem o espaço e o tempo
Redigindo sonetos à lua
Por agruparem palavras ao azar
Conforme a última moda em Paris.
Para nós, não:
O pensamento não nasce na boca
Nasce no coração do coração.
Nós repudiamos
A poesia de óculos escuros
A poesia de capa e espada
A poesia de chapéu abanado.
Propiciamos a mudança
A poesia a olho nu
A poesia a peito aberto
A cabeça de cabeça descoberta.
Não acreditamos em ninfas nem tritões.
A poesia tem que ser assim:
Uma garota rodeada de espigas
Ou não ser absolutamente nada.
Porém, no plano político
Eles, nossos avós imediatos,
Nossos bons avós imediatos!
Refrataram e se dispersaram
Ao passarem pelo prisma do cristal.
Uns poucos se tornaram comunistas
Não sei se foram realmente.
Suponhamos que foram comunistas,
O que eu sei é o seguinte:
Que não foram poetas populares,
Foram uns reverendos poetas burgueses.

Devemos dizer as coisas como são:
Somente um ou outro
Soube chegar ao coração do povo.
Sempre que puderam
Declararam de palavra e de peito

Contra a poesia dirigida
Contra a poesia do presente
Contra a poesia proletária.

Aceitemos que foram comunistas
Mas a poesia foi um fracasso
Surrealismo de segunda mão
Decadentismo de terceira mão,
Tábuas velhas devolvidas pelo mar.
Poesia adjetiva
Poesia nasal e gutural
Poesia arbitrária
Poesia copiada dos livros
Poesia calcada
Na revolução da palavra
Em circunstâncias de poder fundar-se
Na revolução das ideias.
Poesia do círculo vicioso
Para meia dúzia de eleitos:
“Liberdade absoluta de expressão!”
Hoje nos persignamos perguntando
Para que escreviam essas coisas
Para assustar ao pequeno burguês?
Tempo miseravelmente perdido!
O pequeno burguês não reage
Senão quando se trata do estômago.
Como vão assustá-lo com poesias?!

A situação é a seguinte:
Enquanto eles estavam
Por uma poesia do crepúsculo
Por uma poesia da noite
Nós propugnamos
A poesia do amanhecer.
Esta é a nossa mensagem.
Os resplendores da poesia
Devem chegar a todos por igual
A poesia chega para todos.

Nada mais, companheiros
Nós condenamos
- E o digo com respeito...-
A poesia do pequeno deus
A poesia da vaca sagrada
A poesia do touro furioso.
Contra a poesia das nuvens
Nós contrapomos
A poesia da terra firme
- Cabeça fria, coração ardente
Somos pés-no-chão decididos...
Contra poesia de café
A poesia da natureza
Contra a poesia de salão
A poesia de protesto social.

Os poetas desceram do Olimpo.


Nicanor Parra

domingo, 16 de outubro de 2011

Stalker, 1979













Agora o verão veio
E poderia não ter vindo
No sol está quente
Mas deve haver mais

Tudo aconteceu
Tudo caiu em minhas mãos
Como uma folha de cinco pontas
Mas tem de haver mais

Nada de mau se perdeu
Nada de bom foi em vão
Uma luz clara ilumina tudo
Mas tem de haver mais

A vida me recolheu
À segurança de suas asas
Minha sorte nunca falhou
Mas tem de haver mais

Nem uma folha queimada
Nem um graveto partido
Claro como um vidro é o dia
Mas tem de haver mais



Poema declamado no filme Stalker (1979), de Andrei Tarkovsky

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Idioma Invicto

há todos os dias enxames de palavras à margem
metáforas que respiram sobre a erva
e confidências ternas sobre o mês de Outubro
tudo regressa à raiz para ser seiva

assim exploro-me aspiro-me acompanho-me
assim pugno por nascer em cada fonte um grito

em cada tempo haja um ouvido que ouça mais dentro
em cada canto nasça um poeta que seja maldito mas profeta
em cada poema meu aconteça uma bebedeira profunda que vos tome na sua evidência
em cada olhar que um fogo arda indizível
que um cume se inquiete nos gestos sobre os grandes lábios da liberdade
que um caminho se abra em brutal emanação
e se vertam tempos em páginas de livros
no cio aberto nos nervos da manhã como idioma invicto



Fátima Meireles

Clube da Esquina em HQ

O Clube da Esquina virou gibi. O grupo formado em Minas Gerais por Milton NascimentoLô BorgesFlávio VenturiniWagner Tiso,Beto GuedesFernando BrantToninho Horta tem sua trajetória contada pelos próprios músicos, traduzida visualmente por Laudo Ferreira (roteiro e a arte) e Omar Viñole (cores).















Dá pra ler aqui

domingo, 4 de setembro de 2011

A BAGUNÇA TODA... QUEM SABE


Subi seis lances de escada
até meu pequeno quarto mobiliado
abri a janela
e comecei a jogar fora
as tais coisas mais importantes na vida

Primeiro, a Verdade, ganindo como um dedo-duro:
“Não! Direi coisas terríveis de você!”
“Ah, é? Não tenho nada a esconder... FORA!”
Depois, Deus, assombrado, corado e choroso de espanto:
“Não é culpa minha! Não sou a causa de tudo isso!” “FORA!”
Depois o Amor, aliciando subornos: “Você não conhecerá a impotência!
As garotas da capa da Vogue, todas suas!”
Apertei sua bunda gorda e gritei:
“Seu destino é um desvalido!”
Peguei a Fé, a Esperança e a Caridade
as três juntas abraçadas:
“Você não vai sobreviver sem nós!”
“Estou pirando com vocês! Tchau!”

Depois a Beleza... Ah, a Beleza –
Tão logo a levei até a janela
disse: “Você eu amei mais na vida
... mas é uma assassina; a Beleza mata!”
Sem querer realmente atirá-la
desci correndo as escadas
chegando a tempo de apanhá-la
“Você me salvou!” sussurrou
Coloquei-a no chão e disse: “Anda.”

Subi de volta as escadas
procurei o dinheiro
não havia dinheiro pra jogar fora.
Só restava a Morte no quarto
escondida atrás da pia da cozinha:
“Não sou real!” gritou
“Não passo de um rumor espalhado pela vida...”
Atirei-a fora com a pia e tudo, sorrindo
e então notei que o Humor
era tudo que havia restado –
Tudo que pude fazer com o Humor foi dizer:
“A janela fora com a janela!”

Gregory Corso

Preciso dizer que te amo... (III)

Françoise Hardy. Um anjo francês que cantava também em alemão

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

69 6666...69...

Os inversos 6 e 9
Estão desenhados como uma cifra estranha
69
Duas serpentes fatídicas
Dois pequenos vermes
Número impudico e cabalístico
6:3 e 3
9:3 3 e 3
A trindade
A trindade em toda a parte
Que se encontra com a dualidade
Porque 6=2X3
E trindade 9=3X3
69 dualidade trinitária
E esses arcanos seriam mais sombrios
Mas tenho medo de os interrogar
Quem sabe se não está ali a eternidade
Mais além a morte envergonhada
Que se entretém a assustar-nos
E o aborrecimento me envolve
Como uma mortalha com lúgubres rendas
Esta noite


Guillaume Apollinaire

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Vênus

Buscas o amor: beijos, ócios, ciúmes, fome,
uma vontade que funda-se em desordem
como lixo que se junta em campo, solto,
até ser pasto, sítio, edifício, torre
de Babel feita de ossos e de sobras
em tijolos castelando-se feito cobras
que se enovelam num círculo revolto e
lá bem de cima, cereja do bolo,
impossível princesa presa em sonho
orbitado por urubus e moscas
sobre teu desejo caindo de boca.


Ronaldo Bressane

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Também me apaixonei pela Gal

Esse vídeo é uma pérola. Já começa com o depoimento sensacional de Tom Zé, uma declaração de amor explosiva para Gal, em começo de carreira, encantadora, apaixonante. A música é um clássico de Roberto/Erasmo. Coisa linda de se ver essa interpretação.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Preciso dizer que te amo... (II)

Bettie Page. A maior pin-up de todos os tempos, dançando e fazendo striptease sapecamente ao som dos Bad Seeds, banda dos anos 60.

despertadores não despertam ninguém

acordar não é
despertar

é recomeçar
o ciclo diário

trabalhar
chegar no horário

bocejar
pensar no salário


despertadores não despertam
ninguém

despertar é estar vivo
é ser o ponteiro
do seu próprio relógio

até para morrer
não é preciso viver
basta estar vivo

estar vivo é respirar
viver é ser
o ar


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O artista da caneta BIC

Juan Francisco Casas é um pintor espanhol que vem chamando atenção por seus desenhos feitos com canetas esferográficas simplonas. Ele começou a usá-las trabalhando em cima de fotos que seus amigos tiravam em festas.
É impressionante o realismo que o cara consegue criar com a BIC. São mais ou menos 14 usadas em cada imagem.













Veja a galeria completa de Juan

Charlie Brown e o segredo da vida


"Esse é segredo da vida - substituir uma preocupação por outra"

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

quarta-feira, 27 de julho de 2011